quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Ontem foi dia de semear batatas no Vale dos Poços. Fui com a Avó e o Avô. O Vale dos Poços fica a mais ou menos 4 Km da aldeia por uma estrada de terra. Os meus trisavós e bisavós passavam lá temporadas numas casas que hoje são ruínas. Nessa altura, há mais de 30 anos atrás, a terra estava toda cultivada, mas hoje o pedaço que o meu Avô herdou só tem oliveiras e pereiras... e muitos pedregulhos. Por isso, o Avô foi lá uns dias antes com o tractor lavrar a terra para onde estavam destinadas as batatas.




Então, no outro dia o Avô já tinha seleccionado no Arneiro as batatas que íamos semear, vermelhas e brancas. Como havia batatas com mais que dois rebentos, a avó resolveu transformar essas batatas em mais semente, cortando-as, já que basta que cada pedaço de batata semeada tenha dois rebentos para nascer uma planta nova.


Agora, fazer regos é uma coisa muito mais complexa que aquilo que eu pensava. Primeiro é preciso força, que é coisa que eu não tenho em abundância. E depois, equilíbrio, já que sem equilíbrio, a força não é bem aplicada (um princípio do tai chi que também pode ser aplicado na horticultura, quem diria?!).  Eu deixava a enxada cair afastada do corpo, mais na diagonal, mas o avô ensinou-me que se tem que, depois de deixar cair a enxada, puxa-la até quase debaixo do pé e puxar com força. A terra que fica em cima da enxada, vai tapar o rego anterior. Talvez a fotografia seguinte ilustre melhor.


Outra coisa que aprendi ontem sobre os regos é que têm que ser feitos a acompanhar o declive do terreno, de modo a aproveitar o mais possível a água da chuva. Na fotografia, os três primeiros regos estão todos alinhados, mas o 4º (marcado pelo branquinho do fertilizante) que o Avô já está a tapar com a abertura do 5º rego, já vai mais torto.

As descobertas que fiz sobre fertilizantes químicos e sistemas de rega proporcionadas por esta experiência, partilho-as em breve.

sábado, 7 de janeiro de 2012

No Natal, bico de pardal?

Hoje de manhã eu, o Pai e o Avô fomos semear favas e ervilhas na horta do Arneiro. O Avó já tinha preparado a terra com o tractor


portanto fez-se tudo num instante:

o Pai abriu os regos,


eu deitei as sementes,

e o Avô tapou os regos.

As favas semearam-se duas a duas, as ervilhas três a três com uma distância de uns 30cm. Em relação aos regos, os das ervilhas ficaram mais distanciados uns dos outros que os das favas, porque a planta da ervilha torna-se maior, por isso precisa de mais espaço.

Para abrir os regos, o Pai utilizou um abre-regos, um instrumento que eu ainda não conhecia e que é mais ou menos assim:



Ficaram semeados três quartos do terreno. O Avô disse que daqui a um mês já dá para ver os rebentos. Na terra que sobrou, o avó disse que talvez se plante batatas, se sobrarem algumas das que vamos plantar para a semana na horta do Vale dos Poços.

A escolher batatas vermelhas para plantar. As brancas já 
estavam numa saca.

Quando regressámos a casa para o almoço, a Avó disse  «no Natal, bico de pardal». O que o provérbio quer dizer é que as favas devem ser semeadas no início de Dezembro, para que na altura do Natal já haja rebentos do tamanho de um bico de pardal. Não tem nada a ver com pardais a roubar as sementes, como eu pensei. Enfim, vamor torcer para que as nossas favas de Janeiro vinguem.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Ano novo


Tenho esta mania de achar que ano devia começar em meados de Setembro ou Outubro.  Mas só este ano percebi por que é que o sentimento de renovação só me invade nessa altura.

Para qualquer pessoa da minha geração (anos 80) que tenha andado na escola durante grande parte da sua vida, o ano novo era o ano novo escolar. O cheiro dos livros escolares novos, o regresso à escola e aos amigos de pele mais morena e cabelo mais comprido que não tínhamos visto durante as longas férias de verão. Este é o recomeçar das crianças que andam na escola.

Mas só recentemente descobri que este período é também o das colheitas, período em que se despem os ramos seus frutos e se começa um novo ciclo. Na horta dos meus avós, ou melhor nas três pequenas hortas que os meus avós têm em São Facundo, é a altura de se apanhar a azeitona e as uvas e fazer o azeite e o vinho. Um pouco mais cedo, já se apanhou o milho. Ah, e chegam as deliciosas frutas de inverno.



A vindima de 2009 foi a primeira que deu 
vinho...e eu é que a pisei. Se o nosso lagar
 improvisada fosse um spa, chamavam-lhe 
vinothérapie...

As deliciosas frutas de outono: marmelos, diospiros
e tanjas (estas últimas a serem apanhadas pela Mãe).

Mas acontece que só muito recentemente comecei a ter interesse em trabalhar na horta. Estive longe da horta durante toda a minha vida, porque vivia longe e porque as coisas boas iam todas parar ao meu prato sem que eu  mexesse um dedo. Mas uma oportunidade de trabalho mais perto de casa, provocou este regresso a casa pelo qual eu já tanto ansiava. Deixei o deserto da cidade grande para trás e vou aventurar-me na aprendizagem dos trabalhos na horta. Acho que o Avô e a Avó ficam contentes, porque apesar da força toda que eles têm e de nós acharmos que eles vão cuidar da horta para sempre, acho que eles já pensaram no que será da horta quando eles, um dia, devido ao peso da idade, já não tiverem a mesma destreza a fazer uma ou outra coisa. Eu penso nisso, e imagino-os daqui a muito tempo, já muito velhinhos deitados ao sol numa espreguiçadeira a beber limonada e a admirar como os filhos e netos continuam a cuidar da horta, tal como eles fizeram toda a vida.

É a partir deste mês de Janeiro (o mês em que começa o ano "artificial" e o Borda d'Água) que eu pretendo dedicar-me com mais regularidade à horta. Este vai ser um blog/diário da horta, com muitas fotografias e descobertas.

Vamos começar!